2008-08-20

Free riding

A administração Bush e alguns elementos da Reserva Federal começam a dar sinais de discórdia acerca da melhor forma de lidar com o problema Fannie Mae/Freddie Mac. Ontem, o governador do FED de Richmond, Jeffrey Lacker, membro que vota no comité dedicado às decisões sobre taxa de juro, contestou veementemente a ideia do secretário do Tesouro, Henry Paulson, de apoiar explicitamente, com dinheiro do Estado federal, entidades que são privadas - o caso das duas empresas citadas. Para Lacker, o caminho a seguir é o que defende o, agora, consultor Alan Greenspan: nacionalizar as ditas empresas, fragmentá-las e privatizá-las de novo. De resto, uma estratégia semelhante à que foi defendida por Larry Summers, antigo secretário do Tesouro, em artigo de opinião publicado ontem no Diário Económico.
O plano preconizado por Greenspan, Lacker e Summers difere do de Paulson, na medida em que este último, ao dar um voto de confiança aos actuais conselhos de administração da Fannie Mae e Freddie Mac, na prática, está a validar as más práticas do passado e a nada fazer para incentivar à reforma. Ao invés, se as duas empresas fossem nacionalizadas, os únicos penalizados seriam os conselhos de administração e respectivos accionistas. Quanto aos clientes, os "stakeholders" mais importantes, não sofreriam com a operação - pelo contrário, acabavam-se as dúvidas de uma vez por todas. Em relação ao Estado, numa primeira fase seria afectado pela absorção destas sociedades, mas posteriormente, após a necessária reforma das mesmas, poderia colher os frutos associados a uma eventual nova dispersão do capital em bolsa. E que ocorreria, esperançosamente, sob melhores circunstâncias de mercado.

Entre um e outro, também prefiro o plano de Lacker e companhia. Porque a alternativa de Paulson tem dois graves problemas. Primeiro, mantém o mercado em suspense porque ninguém sabe muito bem qual é a real situação da Fannie Mae e do Freddie Mac. E os investidores detestam incerteza. Segundo, não penaliza os actuais gestores e accionistas que, por um lado, incentivaram más práticas, por outro, ocultaram o estado dos balanços. E que entretanto acumulam, individualmente, fortunas pessoais de dezenas de milhões de dólares. Não pode ser.

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